DOMINGUINHO: A sonoridade de um Brasil plural, diverso e talentoso

Fazia tempo que a música brasileira pedia um projeto como esse. Um trabalho que não viesse para agradar algoritmo, nem para dar check em tendência.

Edgard Abbehusen

Fazia tempo que a música brasileira pedia um projeto como esse. Um trabalho que não viesse para agradar algoritmo, nem para dar check em tendência. “Dominguinho” é fruto de conversa entre amigos — João Gomes, Mestrinho e Jota.pê — que, em vez de planejar hits, resolveram homenagear um mestre com o que sabem fazer melhor: tocar.

A ideia era simples. Reunir três trajetórias fortes em torno do legado de Dominguinhos. O resultado foi um disco lançado em abril de 2025, gravado no Sítio Histórico de Olinda. Um álbum que parte do forró, mas não se limita a ele. Tem ali o calor dos anos 90, tem MPB moderna, tem identidade e tem risco. Os três se permitiram brincar, experimentar. E funcionou.

Jota.pê veio embalado por três Grammys Latinos em 2024. Melhor Álbum de MPB/Afro Portuguesa, Melhor Engenharia de Gravação e Melhor Canção em Língua Portuguesa. Mestrinho, por sua vez, já vinha de longa estrada, discípulo de Dominguinhos e parceiro de palco de gigantes como Gilberto Gil e Hermeto Pascoal. E João Gomes, com aquela voz grave (barítono, dizem) que parecia encaixada num estilo só, agora mostra que pode ir além.

Ninguém imaginava que a voz que bombou no TikTok fosse encontrar espaço entre os grandes da música popular brasileira. Mas João não só furou a bolha. Ele entendeu o jogo.

O disco “Dominguinho” é uma soma. Vozes, sotaques, ritmos. É a música feita como um artesanado, sentados, tocando, como se fosse roda de amigos, com a precisão de quem sabe o que está fazendo.

O álbum, ouvido de ponta a ponta pelo Brasil, irretocável em imagem e som, é a prova de que não há escassez de talento, nem de música boa. E se a gente apurar os ouvidos e souber fazer as escolhas certas, podemos cada vez mais ser apresentados à sonoridade de um Brasil plural, diverso e talentoso. Acredito que essa tenha sido a lição mais importante de “Dominguinho” — inclusive para os nossos grandes artistas baianos, cada vez mais enclausurados em suas próprias carreiras. Somar é sempre melhor do que dividir. Fica a dica.

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